terça-feira, 26 de maio de 2015

ISMA-BR entrevista o Dr. Artur Zular, parte 2: "A depressão está associada à falta de propósito na vida."

Na segunda parte da entrevista que o Dr. Artur Zular concedeu ao blog da ISMA-BR com exclusividade, ele aborda os temas do consumismo e da depressão como grandes males de nosso tempo, e indica caminhos para uma melhor compreensão deles. O Dr. Artur Zular é médico cardiologista, presidente da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática (SP) e diretor científico do Comitê de Medicina Psicossomática da Associação Paulista de Medicina, e participará da Mesa-redonda "Driblando o stress", durante o 15º Congresso de Stress, que será realizado de 23 a 25 de junho, em Porto Alegre. 

Sobre consumismo
Se vive muito o que eu tenho e não o que eu sou. Para isso, eu preciso correr atrás do dinheiro para ter mais coisas que eu não tenho necessidade. Coisas que inclusive vão me dar trabalho para guardar, para aprender a mexer. É um círculo vicioso. As pessoas compram celulares novos, carros novos, e o prazer mesmo é muito efêmero, duram segundos. Em uma sociedade consumista, você só é o que você consome. E eu ensino as pessoas a romper com essa máxima. Usa o sapato muito, usa bastante, e só compra outro quando você tiver para quem dar o seu, eu recomendo. É o círculo virtuoso. Fique com as coisas, transforme as coisas. Para que um sofá novo? Transforme-o, muda o tecido. Mas comprar e ter fazem parte também. O ruim é o excesso disso. Um produto muitas vezes me dá identidade e nós somos assim, precisamos pertencer. O ser humano é no outro. Mas é preciso fazer ponderações. Por exemplo, eu, Artur, faço parte de um grupo, de uma tribo. Um grupo de quem estudou muito, um grupo de médicos, de quem fala de uma medicina psicossomática, na abordagem biopsicosocial. Eu faço parte de um grupo, onde eu me identifico como tal, mas eu não preciso comprar nada para isso. A minha autoestima é regulada pelo meu conhecimento, pelos meus anos de estudo. Isso não é efêmero e não é comprável. Quando eu termino um artigo ou um livro, eu fico extremamente feliz, porque eu realizei algo que gosto e tem importância para o meu projeto de vida. Portanto, essa pode ser a diferença para alguém que apenas compra um apartamento novo para ter mais qualidade de vida.

Sobre depressão
A depressão é um grande fantasma do século XXI. Em grau variado, as pessoas estão ligadas à falta de propósito. A vida precisa ter sentido. Quando a pessoa perde o seu propósito, ela tem grandes chances de entrar em depressão. Eu vivo para quê? Por que? Por que eu estou aqui? Farei falta? Que legado eu deixo? Que impressão eu deixo para as pessoas quando saio de um lugar? Vida sem sentido é igual à depressão. E a depressão sempre é multifatorial. O que desencadeia uma depressão? Uma perda, a perda de alguém querido, a perda de um trabalho, de um status. Algumas pessoas são mais resilientes. Outras, são mais frágeis. A falta de sentido de vida corrobora para isso. Se o indivíduo perde alguém, mas tem um propósito no existir, geralmente ele continua na sua jornada. Viktor Emil Frankl, um médico neurologista austríaco que sobreviveu aos campos de extermínio nazistas, observou que pessoas que não tinham sentido em viver, feneciam nos campos de concentração. Morriam em uma semana. Aqueles que tinham um propósito para se manterem vivos, encontrar parentes queridos, contar histórias, evitar que aquilo acontecesse de novo, sobreviviam àquelas mesmas situações de privação. Por isso, quero deixar claro que sempre essa questão de sentido é pano de fundo, é ela que torna a pessoa mais ou menos resiliente. Medicação para casos de depressão é necessária? Sim, mas associado à terapia. A pessoas precisa elaborar, refazer sua percepção de felicidade, para compreender o que está se passando. Se a pessoa elabora, ela pode tirar aprendizados sobre isso. A boa notícia é que isso pode ser treinado.

Informações e inscrições para o 15º Congresso de Stress e demais eventos que fazem parte de sua programação: http://bit.ly/1DMUceL

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