sábado, 2 de maio de 2015

4 perguntas para José Vieira Leite, pós-doutor em Ciências Humanas e coordenador do 7º Encontro Nacional de Qualidade de Vida no Serviço Público:

A turbulência política e financeira vivida pelo Brasil vem impactando não só a realidade das empresas, que freiam investimentos e colocam em risco a estabilidade dos empregos, mas também as condições de vida dos milhões de servidores públicos brasileiros. O Dia do Trabalhador, data histórica e internacional para reflexão das condições de trabalho, este ano ficou marcado por protestos em diversos Estados. É neste cenário de instabilidade que a ISMA-BR propõe o debate em torno da qualidade de vida do trabalho e realiza, de 23 a 25 do próximo mês o 15º Congresso de Stress e Qualidade de Vida, tendo como tópico importante a discussão em torno da problemática específica do serviço público. Como coordenador do 7º Encontro Nacional de Qualidade de Vida no Serviço Público, que é parte da programação do Congresso principal, o Dr. José Vieira Leite, pós-doutor em Ciências Humanas (CTCH-PUC-RJ), doutor em Engenharia de Produção (COPPE-UFRJ), pesquisador e escritor sobre o trabalho humano, concedeu a entrevista a seguir, e antecipou sua preocupação com o atual momento do país.

ISMA-BR: Quais as causas do stress dentro do contexto de trabalho do servidor público?

Dr. José Vieira Leite: O modelo de qualidade de vida no trabalho no qual nos baseamos possui três grandes eixos. Um deles é as condições de trabalho, e por elas entende-se uma questão bem material, como iluminação, mobiliário e todos os demais aspectos que influenciam no ambiente de trabalho. A segunda dimensão é a organização do trabalho, que são as normas formais e informais vigentes. Se é mais normatizado ou menos normatizado, se possui horários fixos, pausas determinadas etc. O terceiro eixo diz respeito às relações sociais de trabalho entre chefiados e chefias, as relações de poder, os tipos de lideranças, as possibilidades de ser mais ou menos criativo ou produtivo.

Os três eixos podem ser geradores de stress, e podem, por consequência, prejudicar muito a condição de trabalho do servidor público.

ISMA-BR: Estamos enfrentando novas dificuldades do ano passado para cá?

Dr. José Vieira Leite: Este tema tem um contexto muito dinâmico, mas é possível afirmar que estamos vivendo um agravamento da qualidade de vida do serviço público. A crise econômico-financeira pela qual o país está passando nos impacta muito, começando pela disponibilidade dos recursos materiais, os salários que não acompanham a inflação, os programas que são reduzidos etc. No fim das contas, a prestação dos serviços e a qualidade da vida profissional pioram muito com menos recursos.

ISMA-BR: Só a estabilidade não garante melhor qualidade de vida do servidor público?

Dr. José Vieira Leite: A estabilidade é um aspecto importante, mas não é tudo. É algo já conquistado, e o ser humano sempre quer se beneficiar de novas conquistas. Começando por aí, temos muitos elementos estressantes nas condições de trabalho do servidor público hoje no Brasil. O fator gratificação ou reconhecimento, por exemplo, é muito significativo para o trabalhador. E hoje em dia temos o contrário: a reclamação da população que recebe um serviço precarizado afeta fundamentalmente a qualidade de vida no trabalho de quem oferece um serviço precário. E no curto prazo, posso afirmar que teremos um agravamento da qualidade de vida do servidor e dos serviços prestados no Brasil.

ISMA-BR: Que expectativas podemos ter com o 15º Congresso de Stress e o 7º Encontro Nacional de Qualidade de Vida no Serviço Público?

Dr. José Vieira Leite: A abertura do Encontro será exatamente sobre este cenário político e econômico que estamos vivendo no país e suas perspectivas. Toda a programação será um espaço para um debate aberto, amplo e profundo sobre as questões do serviço público e sobre quem nele trabalha. Uma oportunidade para ouvir e falar, para construção de conhecimento coletivo. Se olhamos para os palestrantes, vemos pessoas altamente qualificadas, que trarão a vanguarda dos estudos na área de qualidade de vida no serviço público.

O aspecto mais importante em termos de expectativa, ao meu ver, ficará por conta da associação que vamos procurar fazer entre coisas muito concretas da vida do servidor -- como o exercício do trabalho criativo, o assédio moral e sexual -- com a teoria, o campo das ideias. Eu acredito que não adianta só apresentarmos cases e mais cases. Eles são importantes. Mas é preciso olhá-los a partir da teoria para que possamos avançar. Precisamos trilhar o caminho da teoria à prática para não ficarmos presos ao redemoinho da realidade.

Inscrições para o 7º Encontro Nacional de Qualidade de Vida no Serviço Público:: http://bit.ly/1DMUceL


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