Acompanhar
o noticiário para saber o que acontece no mundo é mais do que natural, mas se
aprofundar nos detalhes de crimes violentos, guerras, desastres naturais e
inúmeras outras tragédias pode custar caro à saúde. "A mente não distingue
o estresse das situações reais ou imaginárias" explica o psicólogo Armando
Ribeiro, coordenador do Programa de Avaliação do Estresse do Hospital
Beneficência Portuguesa de São Paulo. Portanto, assistindo a esse tipo de cena,
potencialmente estimulamos a produção dos hormônios do estresse, mesmo se
estivermos em segurança, dentro de casa. Alguns destes hormônios são o cortisol
e a noradrenalina que, uma vez liberados, provocam o aumento da frequência
cardíaca, da pressão arterial e da tensão muscular, deixando todo o corpo em
estado de alerta. Segundo o
especialista, quanto maior for a referência à realidade de quem assiste, maior
o potencial de determinada notícia de provocar estresse. Um crime ocorrido
na própria cidade ou acidentes semelhantes a situações já vivenciadas, por
exemplo, têm mais poder de desestabilizar emocionalmente. "Nossa realidade
é formada a partir das informações que coletamos ao nosso redor e interpretada
individualmente. Se fontes diferentes passam a descrever um panorama de terror,
nossa mente toma esse cenário como verdade absoluta. Em consequência, o corpo
vai tentar se adaptar ao mundo como ele é percebido subjetivamente"
explica Ribeiro.
De acordo
com a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente do braço nacional da entidade
International Stress Management Association (ISMA BR), pessoas mais sensíveis
podem até desenvolver transtorno do estresse pós-traumático só por acompanharem
a cobertura de uma tragédia pela mídia. "Esse transtorno é diagnosticado
quando, mesmo alguns dias após o contato com o acontecimento, a pessoa não
consegue executar suas tarefas cotidianas e apresenta dificuldades para dormir, sente dores musculares ou vontade de chorar sem motivos", esclarece.
"O estímulo visual é o pior de todos e o mais difícil de esquecer.
Por isto, quem já sabe que é facilmente impressionável deve evitar assistir
vídeos que mostram tragédias", recomenda Ana Maria Rossi.
Por fim, deixe
para se atualizar sobre os acontecimentos no começo do dia e reserve o final da
tarde e a noite para práticas relaxantes, que promovem um sono tranquilo.
"Uma ótima ideia é substituir o hábito de acompanhar o noticiário da noite
por uma leitura de poesia, romance ou filosofia, pela prática de um hobby ou
por uns minutos de meditação", sugere Ribeiro.